Monday, September 25, 2006

SE EU FOSSE UM POEMA



Eu queria deixar de ser eu mesmo
Para virar um poema
Desses que fazem a gente chorar
Um daqueles que nunca deveriam acabar
Queria ser aquele poema
Que o amante escreve para a pessoa amada
Que transformam amigo em namorado
Que fazem chorar o coração
Mesmo aquele da pessoa mais sofrida e mais fechada
Daquela que tem emoção
Mas agüenta tudo quieta, calada
Queria ser a frase certa
Para a Maria, Carolina, Beatriz ou Roberta
Queria ser as palavras de um amigo
Para o José, Pedro, Luís ou Rodrigo
Se eu fosse um poema
As batidas do meu coração seriam cada verso
Num jubilo que o fim está no começo
Porque o que está certo sempre parece estar pelo avesso?
Se eu fosse um poema
Seria um daqueles de amor
Que fala de saudade, perda , carinho ou dor
Porque amar é voltar sem ter sido chamado
É parecer que é certo quando está tudo errado
É estar longe quando se deveria estar ao lado
É dizer B quando deveria dizer A
É continuar voando quando já deveria ter aterrissado
É pensar que está no presente quando já virou passado
Mas amar não é só isso
É ser a luz do seu escuro
É estar do outro lado do muro
É falar sem precisar dizer eu juro
É ser simples, básico, comum e puro
É ter feito parte do seu antes, ser o seu agora
E quem sabe seu futuro
Nas palavras vou viver
Os sonhos de um poeta
Que queria transformar um quadrado
Em uma reta
E só irei morrer
Se algum dia você me ler
E me largar e me esquecer
Num gesto absurdo me dizer adeus
Sem mesmo saber pra onde vais
Se vai voltar
Ou se me levará junto
Num pedaço de papel rascunho
Onde estarei escrito, em palavras silêncios
Isso se eu fosse um poema.

[ Eder Marçal ]

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